Texto elaborado por Rodney Alfredo Pinto Lisboa.
Figura 1: Operador do 1º BFEsp participa de adestramento de tiro com os quadros operacionais do 3º Batalhão do 7º SFG-A (Special Forces Group-Airborne) do Exército dos EUA em Fort Bragg, Carolina do Norte. (Fonte: Acervo do COpEsp).
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A palavra “simbologia” é empregada em referência ao estudo ou interpretação dos símbolos, que, como elemento essencial para a comunicação entre as pessoas, constitui representação (tridimensional, gráfica, sonora ou gestual) de uma ideia abstrata.
Nas relações pessoais e/ou institucionais, habitualmente, os símbolos, como representação de temores e aspirações, são utilizados de modo a promoverem a integração de diferentes grupos sociais, contribuindo substancialmente para atribuir-lhes uma identidade social que orienta os modos de pensar e agir de seus componentes.
Especificamente no que se refere aos grupos profissionais, os símbolos constituem representações peculiares à atividade por eles desempenhada. Por sua vez, as representações simbólicas características da sociedade militar estão diretamente relacionadas a um ethos institucional alicerçado no binômio hierarquia e disciplina.
Para as OpEsp do EB (Exército Brasileiro), o simbolismo inerente ao “gorro preto” evoca o apego às tradições, a reverência à camaradagem, o orgulho de pertencer ao seleto grupo de indivíduos, que após serem testados e aprovados nos limites da obstinação e resistência, passaram a integrar as unidades de elite da Força Terrestre (1º BAC [1º Batalhão de Ação de Comandos] e o 1º BFEsp [1ºBatalhão de Forças Especiais]). Para efeito de esclarecimento, é pertinente salientar que o gorro preto traz em suas laterais direita e esquerda os distintivos das Forças Especiais e da Ação de Comandos, respectivamente.
Fotografia 2: Caçadores e spotters das FOpEsp do Exército Brasileiro, integrantes da Força-Tarefa que participou do esquema de segurança do presidente Barack Obama (em visita oficial ao Brasil), durante evento de apresentação para a imprensa realizado em 2011 na capital federal. (Fonte: Disponível em: https://cryptome.org/info/obama-protect41/obama-protect41.htm Acesso em: 22 jun. 2016).
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A deferência para com o gorro preto teve origem no final da década de 1950 (período que baliza o início das OpEsp no EB), quando o Núcleo da Divisão Aeroterrestre (atual Brigada de Infantaria Paraquedista), organização responsável por conduzir o Curso de Operações Especiais, buscava criar referências cuja caracterização promovesse vínculos de pertencimento que arraigasse um vigoroso espírito de corpo em seus integrantes. A adoção do gorro bico de pato, assim como outros itens do fardamento (padrão de camuflagem; botas de combate; camisa branca com o nome do usuário no peito), representou uma mudança de hábitos e comportamentos em favor do comprometimento para com a tropa. Nesse contexto, foi atribuída uma cor específica para cada uma das especialidades aeroterrestres (amarelo para os dobradores de paraquedas e vermelho para os precursores paraquedistas). Após se depararem com uma breve resistência em relação a cor sugerida para o contingente das Operações Especiais, os quadros operacionais dessa atividade passaram a ostentar a cor preta em sua cobertura, referência às ações noturnas que a caracterizam.
Para ilustrar a relação de profundo respeito que os ElmOpEsp do EB nutrem para com o gorro preto, torno público o testemunho que me foi dado por um amigo FE, a quem atribuirei o codinome Queiróz. No período em que servia junto à Força 3 (3ª Companhia de Forças Especiais [subordinada ao Comando Militar da Amazônia]) cumprindo missão de repressão a crime ambiental na fronteira do Brasil com o Peru, Queiróz sofreu um acidente por ocasião da queda de uma árvore arrancada devido ao empuxo do rotor de um helicóptero Blackhawk, pairado no ar enquanto os operadores executavam a técnica de rapel conhecida por Desembarque Aerotático (Fast Rope). A queda da árvore provocou um grave ferimento na cabeça, chegando a lesionar uma vértebra. Trasladado para o hospital, enquanto se recuperava das severas lesões sofridas, por exigência sua, o gorro preto permaneceu sempre ao seu lado. Queiróz também me confidenciou que ao servirem no Haiti sob a égide da ONU (Organização das Nações Unidas), assim como ocorre com contingentes militares de outras nacionalidades que operam respondendo à autoridade desse órgão intergovernamental, os militares brasileiros tiveram que trajar a cobertura azul característica da entidade. Contudo, mesmo tendo que usar cobertura de outra cor por dever de ofício, o gorro preto sempre o acompanhava, mantido guardado em um dos bolsos de seu fardamento. Segundo ele revelou, o conceito por trás das atitudes manifestadas tanto na selva fronteiriça quanto no país caribenho remete a honra e orgulho de ser um FE. Nesse sentido, na eventualidade de encontrar a morte, seja em que circunstância for, o operador, em atitude altiva e comprometida com os ideais de sua unidade, optará por perecer ostentando o gorro preto, símbolo indelével das Forças Especiais do EB.
Conforme é possível notar no relato apresentado anteriormente, a simbologia do gorro preto vai muito além do conceito da caracterização/identidade militar. Para os ElmOpEsp do EB, trajar o gorro preto serve para distinguir uma classe de combatentes que valem-se da singularidade e excelência de suas habilidades, eventualmente colocando-se em situação de risco, não medindo esforços para alcançar os objetivos que lhes são atribuídos.
Rodney Alfredo Pinto Lisboa.
Professor universitário, Pós-graduado em História Militar, Mestre em Estudos Marítimos (área de concentração: Segurança, Defesa e Estratégia Marítima). Sócio correspondente do IGHMB (Instituto de Geografia e História Militar do Brasil). Autor de diversos artigos sobre Operações Especiais, Guerra Irregular e Contraterrorismo.
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